Eu odeio pouco. Mas das poucas coisas que odeio, as que odeio mais são as circunstâncias. Odeio-as dessa forma intensa por elas serem tão instáveis. É que as circunstâncias mudam muito, e quando mudam, mudam-se para longe de mim as pessoas que eu aprendi a amar. Fico estendendo a mão, neste estado ébrio, cambaleante, tentando segurá-las comigo numa espécie de trem imparável, cuja única constância é nunca permanecer no mesmo lugar. Eu odeio as circunstâncias. E elas ainda me fazem esse deboche quando rimam com constância, mas a fonética é toda a semelhança que elas têm pra dar. Eu odeio as circunstâncias.
Eu queria amar a inconstância. Daí não teria rima, mas também não teria amor pra dar. Puxa vida, como eu odeio as circunstâncias!