Faz um tempo que o amor resolveu que precisava se materializar para ser aceito pelas pessoas. Ele então, que sempre fora abstrato, vestiu-se de carne; pôs ossos que sustentassem os músculos, cobriu-se de pele e pôs unhas, pêlos e cabelos. Ficou idêntico a nós. Você não veria distinção material nesse agente disfarçado. E certo dia de manhã, o amor nasceu humano.
Agora o amor tinha mãos e pernas, andou entre nós e nos tocou. Muitos logo se alegraram com ele. Agora tão concreto, visível, tocável e, assim, tão amável. Mas as pessoas não gostaram quando o amor exigiu reciprocidade. Porque você sabe: o amor é exigente no quesito compromisso.
Puxa, foi horrível. Mas as pessoas puxaram o amor pelos cabelos e bateram muito nele. O amor apanhava na cara. Foi humilhado. Foi acusado. Cuspiram nele. Traíram o amor. Mas as pessoas ataram suas mãos até que o penduraram numa Cruz. O amor sofreu, chorou, amou e por fim morreu assim, de amor.
Mataram o amor, menininha. Mas você sabe, o amor não morre; se transforma e amadurece. Morrer era parte do plano, você sabe. Agora eu também o amo, e descobri que sem sacrifício não há amor, querida. E é por isso que hoje eu morro um pouquinho por você; abdico alguns gostos, renego idiossincrasias e pessoalidades, cuspo fora meus egoísmos. Hoje eu morro um pouquinho por você, só pra dizer que eu também lhe amo porque Ele me amou primeiro.