10 de agosto de 2023

Ensaio sobre a infinitude

Haverá um momento em que todas as células no meu córtex morrerão. Todos os meus tecidos serão decompostos, e então, durante apenas duas, ou no máximo três gerações posteriores, eu ainda poderei ser lembrado. Cerca de cento e vinte anos, é o prazo comum até ser apagado da história. As gerações seguintes me esquecerão, e daí por diante, pelo mundo inteiro, estarei em estágio de completa inexistência. Será então como se eu nunca tivesse sido. Mesmo minhas memórias compartilhadas serão perdidas com a morte dos que hoje vivem e um dia as compartilhei. Todos seremos pó e entraremos para a total nulidade.

Mas depois de passadas todas as gerações, depois de a história humana inteira chegar ao seu limite de ser contada, lá, no fim do mundo, no último ponto da última página, haverá ainda uma única pessoa que lembrará de mim, que nunca me esqueceu. Ele que também é homem mas não morre, vendo todas as gerações passarem; no fim de tudo, ele ainda estará esperando por mim. Ele me manterá nos seus pensamentos todos os dias, e não apenas vai lembrar-se de mim, mas sentirá saudades.

Um dia, contra todas as impossibilidades e desafiando todo o poder do tempo, ele me recomporá, célula por célula, numa versão melhorada. Ele me trará do vazio para o retorno à plena existência. A saudade o levará a me refazer para nos vermos outra vez. E chegará o dia em que depois de um longo abraço eu vou poder dizer a ele, que foi sempre o meu melhor amigo: “finalmente estamos juntos, como você prometeu”.

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